...o hálito, não faz o monge...
O que estará na essência de uma bebida espiritual, para que o ritual de ebriedade seja de uma forma geral, repetido ao longo da vida ou até não se poder mais?
O que se esconderá para lá da publicidade bem conseguida e imaginativa?
Quais as probabilidades de sucesso de, a partir de agora, conseguir entregar uma recordação a Berlusconi?...
Tão inacreditável como ver um grupo de pinguins arrepender-se logo a seguir à entrada na água gelada e voltar para a costa quando leva com uma brutal onda (qual humano que molha o dedo do pé na água fria do mar e sente um calafrio subir pelo corpo todo), é o facto de me ter deslocado à Herdade do Vinho Limpo e Bebida Amparo a fim de entender o porquê de tal relação amor/ódio que temos com o néctar dos deuses.
Sobre o signo "Quo Vino?", encontro-me numa cuba de fermentação de vinho, ladeado pelo não menos inimputável Eng. Agrónomo Bagão Videira, enólogo de profissão...
- Não senhor, de profissão não. Enólogo de ocupação e provador de bebidas alcoólicas em regime de tempos livres e lazer. É preciso reconhecer a diferença.
- São ainda oito da manhã e o Eng. já se encontra assim nesse estado!?
- Assim como? Com as pernas das calças arregaçadas!?
- Refiro-me a estar já alcoolizado!
- Calma! Eu não bebi isto tudo hoje! Hoje ainda só provei um bocadinho.
- E chegou ao fundo da cuba como?
- Com uma palhinha. Comecei esta demanda já vai para mais de dois meses e devo dizer que é um enorme feito para um só homem, ao qual não posso deixar de me sentir um pouco inchado...
- De orgulho, suponho.
- Não, de vinho. Só tenho parado para dormir umas horas, por vezes guergojitar e trincar qualquer coisa logo a seguir.
- E trinca o quê? Que cuidados tem com a alimentação?
- Tenho basicamente o cuidado de molhar o pão no vinho. Desta forma subtil, o pão não arranha a garganta.
- O que me está a dizer é que não tem uma alimentação variada.
- Costumo variar, sim senhor. Como uma tigelada de vinho com pão, bebo vinho sem acompanhamento, refresco de vinho...uma vez experimentei molhar o pão no vinho, mas achei monótono.
- Assim como a sua alimentação.
- Permita-me discordar. Tenho variado de tempos a tempos. Aliás, pensando nisso, todo o processo começa a parecer-me algo rotineiro. Pão, vinho, pão, vinho, pão, vinho...
- Pois, dessa maneira não vai longe.
- Não creio. Não quando agora tenho o dobro das hipóteses de subir.
- Como assim!? Subir na carreira ou em reconhecimento!?
- Nada disso, homem! Duas escadas, dois cavalheiros para me apoiarem na subida...