...o degredo, é a alma do negócio...
Que tipo de terrorismo é de se esperar neste nosso país?
Qual seria o epicentro mais provável para um ataque?
Qual o centro nevrálgico para a prévia subtil conspiração?
Com quantos paus se faz afinal uma canoa?
Tive de subir a uma das serras mais conceituadas do nosso país, para encontrar o reduto do mais bem escondido terrorista português. Não foi fácil. Mas consegui. Sem mais delongas, apresento-vos o senhor Laurêncio.
- Senhor Laurêncio, já pode aparecer.
- Laurêncio d'Arrábida, se não se importa.
- Bem vindo ao nosso espaço, senhor Laurêncio d'Arrábida.
- Ora essa, o prazer é todo meu. E afinal, o espaço também é todo meu.
- Referia-me ao espaço da entrevista...
- Adiante, vamos lá a despachar com isto.
- Como descreveria a sua pessoa?
- Bom, o Laurêncio é um indivíduo sereno, gosta de todas as temporadas das "Donas de Casa Desesperadas", gosta de dar grandes passeios pela serra ao entardecer e está a tirar um curso por correspondência de culinária para solteiros.
- A sério!?
- Não.
- Senhor Laurêncio d'Arrábida, porquê enveredar pela vida do crime?
- Porque a vida do oculto soava-me mal. Na vida do crime é "faz-se e acontece", não há cá vígaros.
- Não posso deixar de lhe fazer esta pergunta. Quem é para si, o mais bem sucedido terrorista?
- Olhe e eu não posso deixar de responder a essa pergunta! Esta foi boa, não foi? Um bocado de humor para quebrar o gelo, percebe?
Bom, mais a sério, terei de apontar o exemplar serviço de dois esquilos que moram neste Pinus Pinea por cima da entrada. Muito bem organizados!
- Peço desculpa pela minha ingenuidade, mas não entendo como dois esquilos podem ser terroristas...
- Ui! Todos os dias o padeiro deixa-me o pão e um saco de tâmaras. E não há um único dia em que os consiga apanhar a surripiar-me as tâmaras! É o que lhe digo! Muito bem organizados!
- Bom, continuando. Tem alguma coisa entre mãos para breve?
- Refere-se a esta frigideira? É quase hora do almoço. Não me vai fazer a desfeita de não almoçar aqui!
- Eu queria dizer se está a dedicar-se a algum projecto.
- Ah! Sim, estou. Mas é surpresa. Afinal esta ocupação gira toda à volta do suspense.
- E não pode levantar nem um pouco a ponta do véu?
- Posso levantar. Não sei é se vai gostar, a patroa ainda não fez a depilação! Não fique com essa cara! Estou outra vez a quebrar o gelo, homem! Eu tenho um piadão, não acha?
Voltando à sua pergunta e porque engracei consigo, digo-lhe que é um musical sobre um casal que acorda de manhã e, para seu espanto, estão armadilhados com um cinto de salsichas frescas no lugar do dinamite e sacos de tâmaras no lugar dos sacos de pregos à volta da cintura. Ora isto tudo é uma tragédia sem precedentes para o casal e para o pequeno pónei que, com eles parte em demanda, em busca de uma resposta divina.
- Confesso que não é o que estava à espera, senhor Laurêncio d'Arrábida...
- Pois não! É ainda melhor! Diga-me, tirando o Filipe la Féria, quantos terroristas conhece que atacam com um musical? Vá, quantos!?
- Realmente, não conheço nenhum...
- Está a ver!? Continue a dedicar-se ás entrevistas e deixe o terrorismo comigo. Agora para o seu almoço, vai querer o seu esquilo com acompanhamento de molho de tâmara ou nem por isso?...