19 de Fevereiro de 2010

...quem muito escolhe, pouco aperta...

 

Num dos raros dias em que consigo a proeza de espirrar dez vezes seguidas, não há ninguém para aplaudir de pé!?

Meus fiéis, é chegada a altura de um passo tão aguardado ser finalmente tomado!

Vou aproveitar este recanto onde me encontro enclausurado, gentilmente cedido pelos meus raptores (um grupo de cidadãos extremamente capaz e bastante sério), para encarar a Morte e discutir com ela de forma instrutiva, o seu poder de dedução sobre questões que realmente importam ao comum dos mortais.

- Devo confessar Sra. Morte, que me sinto pouco à vontade com a sua presença.

- Antes de mais, trate-me por menina Morte. Apesar de todos me conhecerem ou já terem ouvido falar de mim, nunca casei ou estive comprometida.

- Não me digam que faltaram ou faltam pretendentes na sua vasta existência?

- Não é fácil. Sabe que neste ofício, acabamos por nos casar com o trabalho. Levamos uma vida onde temos isenção de horário, lidamos com pessoas frias a qualquer hora do dia ou da noite, por vezes levamos o trabalho para casa porque temos de estar de sobreaviso por causa de um ou outro que ficou em estado de coma ou apresenta um diagnóstico reservado, enfim, uma maçada...

- Realmente não deve ser fácil. Mas vamos ao que me trouxe aqui. Está preparada para o questionário?

- Devo somente relembrar todos de que sou a principal beneficiária seja a curto, seja a longo prazo, logo e por si só, serei suspeita quanto ás respostas que darei.

- Muito bem. Diga-me, para curar a gripe, se tivesse de escolher entre um antigripal e um quilo de tangerinas, qual escolheria?

- Ora aí está uma pergunta pertinente. O clássico dilema entre o método natural e o método químico para alcançar o términos de uma maleita. Eu sugiro o método natural.

- Compreendo. Segunda questão. Está a bordo de um iate cheio de convivas em celebração. O iate está prestes a afundar-se e o mar está infestado de tubarões. Aguarda por ajuda ou arrisca ir a nado até à margem?

- Bom, esta é mais complicada, contudo perfeitamente acessível a mim. Incitava os demais ao pânico e desespero, gritando que a ajuda não chegaria a tempo e que a margem estava ao alcance de todos. Penso que isso dar-me-ia algum tempo até os tubarões estarem saciados.

- Resposta arrojada. Para acabar, algo mais rebuscado. Que devo comer depois de uma dose de amanita muscaria?

- Absolutamente nada. Os amanita muscaria são bastante calóricos e uma dose é o suficiente para uma pessoa se sentir com o estômago confortável.

- Menina Morte, foi um prazer sem precedentes. Agradeço-lhe a disponibilidade.

- Ora essa, eu é que agradeço. Qualquer publicidade é boa publicidade.

- Já agora, troco o meu grupo de cidadãos extremamente capaz e bastante sério pela chave de liberdade deste recanto.

- Com essa fez-me lembrar o ex-comandante do Barco de Portugal. Abandonou o Barco por assim dizer, sobre o pretexto de ser vice-presidente de um Barco maior.

- E teme que seja areia a mais para ele!?

- O meu medo é que o Barco não tenha água a mais e ele não se dê num ambiente tão seco...

escrito por centrodasmarradas às 01:14 linque da crónica
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