...quem desdenha, quer contar...
Eu ainda sou do tempo em que o telejornal, era quase totalmente preenchido com notícias sobre a gripe A ou indirectamente relacionadas com ela.
Não pude deixar de reparar q paulatinamente, foram escasseando a olhos vistos ou reduzidas a uma nota de roda-pé de oito em oito dias. Como defendo os oprimidos e sou totalmente contra esta discriminação, reuni esforços para encontrar o paradeiro deste injustiçado, cuja força de marketing é mais poderosa que a do próprio vírus.
Consegui finalmente identificá-lo, disfarçado de símbolo químico numa tabela periódica. Há que dar crédito à criatividade do H1N1, mas o que levará um vírus a permanecer no mundo da fantasia quando o carnaval já findou!?
- Senhor H1N1, se se sentir mais à vontade, pode descer da tabela.
- Eu aqui estou confortável, deixe estar.
- Como queira. O que lhe apraz comentar em relação à evidência de todo o espectáculo de luz e cor criado à sua volta, estar a ser cada vez menos noticiado?
- Tinham-me alertado para o facto de isto vir eventualmente, a acontecer um dia. Nada é eterno, sabe? Se reparar, muitos outros grandes talentos desta praça foram caindo no esquecimento. Note em casos como a varicela, a gripe espanhola, tudo exemplos de uma fantástica performance, mas agora símbolos do passado.
- Mas se comparar, a sua ascensão foi meteórica, contudo de breve duração...
- Absolutamente. O mundo do espectáculo de hoje em dia absorve muito do nosso tempo, requer uma predisposição de 24/dia, resultados imediatos e não dá margem de erro para o fracasso.
- Está com isso a reconhecer o fracasso?
- Fracasso talvez seja uma palavra muito dura. A solicitação da minha presença em quase todos os recantos do planeta, por vezes quase em simultâneo, roçava o ridículo.
- Toda essa digressão mundial esgotou-o?
- Esgotou-me!? Isso é dizer pouco! Eu não sou omnipresente, co'a breca!
- Foi por isso que se refugiou no anonimato?
- Foi por isso, pela contrafacção do meu material e pela sua administração em polvos...essa foi a gota de água que fez transbordar o copo.
- Não quererá antes dizer administração em gatos?
- Não, refiro-me mesmo a polvos.
- Está a dizer-me então, que todo o mistério à volta dos polvos que deram à costa, se deve à contrafacção de H1N1!?
- Não me surge outra explicação senão essa.
- Elabore a sua ideia.
- Ora as praias são usadas muitas vezes para cargas e descargas de contrabando, grande percentagem é material contrafeito onde os vírus não são excepção e também se incluem. Não me admira nada que numa destas descargas, esses exímios na arte da camuflagem, tenham sido utilizados como "mulas" e que os invólucros dentro deles tenham rebentado assim que se preparavam para invadir a costa, deslocando-se lentamente de bruços pela areia.
- Mas isso é um disparate!
- Acha!? E um porco constipar um ser humano já não é!?...