...quem vai ao lar, perde o lugar...
Se me perguntarem qual é a média de pétalas de malmequeres que são desfolhados pelas virgens de todo o mundo, não saberei responder...pelo menos, com a exactidão que é requerida. Contudo, se me perguntarem de entre o consumismo desenfreado do Natal e o Carnaval qual é que faz a plebe portuguesa esquecer a crise e a desgraça, terei de concordar que o Carnaval faz isso e muito mais.
Se há algum exemplo cabal que melhor defina a palavra "surreal", esse é ridicularizado pelo nosso Carnaval.
A minha maneira de fazer excelente unilateral pseudo-jornalismo, leva-me a não olhar a meios e a despesas. Desloquei-me ao Pólo Norte onde reside a única morsa vendedora itinerante de gelados e de peúgos artesanais.
- Dona Morsa, antes de mais permita-me agradecer-lhe e manifestar o privilégio que sinto ao entrevistar o meu primeiro ser não-humano.
- E sente-se confortável e mentalmente bem com isso? Com o facto de um humano entrevistar um animal?
- Era um marco importante que queria há muito alcançar...
- Desde que a sua sanidade mental continue a ser a mesma após esta entrevista e os seus mais próximos continuem a levá-lo como uma pessoa séria, por mim tudo bem. Quer um geladinho?
- Agradeço, mas não.
- De certeza!? É por conta da casa! Este é de arenque com aloe vera.
- Fica para depois. Dona Morsa...
- Trate-me por Tatão.
- Tatão!?
- E porque não Tatão!? Quer dizer, um hipopótamo fêmea pode ter um nome erótico-lascivo e uma morsa não pode sonhar pelo menos com um nome artístico!?
- Bem visto...Tatão, porquê uma venda itinerante de gelados em pleno Pólo Norte?
- O meu sócio, um imponente urso polar, disse-me que faria tanto sentido vender gelados no Pólo Norte, como haver um dia em Portugal desfiles de moçoilas a dançar samba em pleno Inverno e com temperaturas entre os 9ºC e os 11ºC.
- Como se sentiu com esse comentário?
- Senti que um dia os meses de calor haveriam de me dar razão. Era uma questão de tempo.
- Foi então que o negócio prosperou?
- Não. O negócio só prosperou de forma lucrativa, a partir do dia em que não houve acordo vinculativo na última cimeira do ambiente...como era de se esperar, aliás.
- Não teme que haja um novo abalo na próxima cimeira a realizar no México?
- Não. Não porque vou também estar presente com uma barraquinha. Consiste na venda de mini-icebergs ás pessoas que pretendam ver in loco o derretimento de um destes gigantescos blocos de gelo flutuante mas que, felizmente para mim, não têm poder económico para uma incursão ás calotas polares. No entanto, enquanto derrete e não derrete, compram gelados. Engenhoso, não acha?
- Maquiavélico, direi mesmo...
- E agora, vai um geladinho ou não?
- Tem alguma variedade para além do arenque com aloe vera?
- Tenho de arenque com corantes, arenque sem corantes, arenque com raspas de dente de narval, arenque em gelo, gelo em arenque e shish kabab de arenque.
- Tem arenque fumado?
- Não. Isso engloba fazer uma fogueira e é mau para o negócio...