17 de Fevereiro de 2010

...quem vai ao lar, perde o lugar...

 

Se me perguntarem qual é a média de pétalas de malmequeres que são desfolhados pelas virgens de todo o mundo, não saberei responder...pelo menos, com a exactidão que é requerida. Contudo, se me perguntarem de entre o consumismo desenfreado do Natal e o Carnaval qual é que faz a plebe portuguesa esquecer a crise e a desgraça, terei de concordar que o Carnaval faz isso e muito mais.

Se há algum exemplo cabal que melhor defina a palavra "surreal", esse é ridicularizado pelo nosso Carnaval.

 

A minha maneira de fazer excelente unilateral pseudo-jornalismo, leva-me a não olhar a meios e a despesas. Desloquei-me ao Pólo Norte onde reside a única morsa vendedora itinerante de gelados e de peúgos artesanais.

- Dona Morsa, antes de mais permita-me agradecer-lhe e manifestar o privilégio que sinto ao entrevistar o meu primeiro ser não-humano.

- E sente-se confortável e mentalmente bem com isso? Com o facto de um humano entrevistar um animal?

- Era um marco importante que queria há muito alcançar...

- Desde que a sua sanidade mental continue a ser a mesma após esta entrevista e os seus mais próximos continuem a levá-lo como uma pessoa séria, por mim tudo bem. Quer um geladinho?

- Agradeço, mas não.

- De certeza!? É por conta da casa! Este é de arenque com aloe vera.

- Fica para depois. Dona Morsa...

- Trate-me por Tatão.

- Tatão!?

- E porque não Tatão!? Quer dizer, um hipopótamo fêmea pode ter um nome erótico-lascivo e uma morsa não pode sonhar pelo menos com um nome artístico!?

- Bem visto...Tatão, porquê uma venda itinerante de gelados em pleno Pólo Norte?

- O meu sócio, um imponente urso polar, disse-me que faria tanto sentido vender gelados no Pólo Norte, como haver um dia em Portugal desfiles de moçoilas a dançar samba em pleno Inverno e com temperaturas entre os 9ºC e os 11ºC.

- Como se sentiu com esse comentário?

- Senti que um dia os meses de calor haveriam de me dar razão. Era uma questão de tempo.

- Foi então que o negócio prosperou?

- Não. O negócio só prosperou de forma lucrativa, a partir do dia em que não houve acordo vinculativo na última cimeira do ambiente...como era de se esperar, aliás.

- Não teme que haja um novo abalo na próxima cimeira a realizar no México?

- Não. Não porque vou também estar presente com uma barraquinha. Consiste na venda de mini-icebergs ás pessoas que pretendam ver in loco o derretimento de um destes gigantescos blocos de gelo flutuante mas que, felizmente para mim, não têm poder económico para uma incursão ás calotas polares. No entanto, enquanto derrete e não derrete, compram gelados. Engenhoso, não acha?

- Maquiavélico, direi mesmo...

- E agora, vai um geladinho ou não?

- Tem alguma variedade para além do arenque com aloe vera?

- Tenho de arenque com corantes, arenque sem corantes, arenque com raspas de dente de narval, arenque em gelo, gelo em arenque e shish kabab de arenque.

- Tem arenque fumado?

- Não. Isso engloba fazer uma fogueira e é mau para o negócio...

escrito por centrodasmarradas às 21:08 linque da crónica
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