25 de Fevereiro de 2010

...quem desdenha, quer contar...

 

Eu ainda sou do tempo em que o telejornal, era quase totalmente preenchido com notícias sobre a gripe A ou indirectamente relacionadas com ela.

Não pude deixar de reparar q paulatinamente, foram escasseando a olhos vistos ou reduzidas a uma nota de roda-pé de oito em oito dias. Como defendo os oprimidos e sou totalmente contra esta discriminação, reuni esforços para encontrar o paradeiro deste injustiçado, cuja força de marketing é mais poderosa que a do próprio vírus.

Consegui finalmente identificá-lo, disfarçado de símbolo químico numa tabela periódica. Há que dar crédito à criatividade do H1N1, mas o que levará um vírus a permanecer no mundo da fantasia quando o carnaval já findou!?

- Senhor H1N1, se se sentir mais à vontade, pode descer da tabela.

- Eu aqui estou confortável, deixe estar.

- Como queira. O que lhe apraz comentar em relação à evidência de todo o espectáculo de luz e cor criado à sua volta, estar a ser cada vez menos noticiado?

- Tinham-me alertado para o facto de isto vir eventualmente, a acontecer um dia. Nada é eterno, sabe? Se reparar, muitos outros grandes talentos desta praça foram caindo no esquecimento. Note em casos como a varicela, a gripe espanhola, tudo exemplos de uma fantástica performance, mas agora símbolos do passado.

- Mas se comparar, a sua ascensão foi meteórica, contudo de breve duração...

- Absolutamente. O mundo do espectáculo de hoje em dia absorve muito do nosso tempo, requer uma predisposição de 24/dia, resultados imediatos e não dá margem de erro para o fracasso.

- Está com isso a reconhecer o fracasso?

- Fracasso talvez seja uma palavra muito dura. A solicitação da minha presença em quase todos os recantos do planeta, por vezes quase em simultâneo, roçava o ridículo.

- Toda essa digressão mundial esgotou-o?

- Esgotou-me!? Isso é dizer pouco! Eu não sou omnipresente, co'a breca!

- Foi por isso que se refugiou no anonimato?

- Foi por isso, pela contrafacção do meu material e pela sua administração em polvos...essa foi a gota de água que fez transbordar o copo.

- Não quererá antes dizer administração em gatos?

- Não, refiro-me mesmo a polvos.

- Está a dizer-me então, que todo o mistério à volta dos polvos que deram à costa, se deve à contrafacção de H1N1!?

- Não me surge outra explicação senão essa.

- Elabore a sua ideia.

- Ora as praias são usadas muitas vezes para cargas e descargas de contrabando, grande percentagem é material contrafeito onde os vírus não são excepção e também se incluem. Não me admira nada que numa destas descargas, esses exímios na arte da camuflagem, tenham sido utilizados como "mulas" e que os invólucros dentro deles tenham rebentado assim que se preparavam para invadir a costa, deslocando-se lentamente de bruços pela areia.

- Mas isso é um disparate!

- Acha!? E um porco constipar um ser humano já não é!?...

escrito por centrodasmarradas às 15:35 linque da crónica
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