...quem não arrisca, não mordisca...
O buraco...
Que segredos encerra no seu espaço?
Que perigos esconde no negrume?
Qual a profundidade de um buraco negro, em comparação com o buraco de certas Câmaras Municipais de Portugal?
No meio de todas estas dúvidas que podem de facto, mudar o rumo de uma garrafa de vidro na corrente do mar, acedi ao convite feito pela Associação Buracos de Orçamentos de Obras Públicas e Privadas, Furos e Porque Não, de Afins Também.
Três buracos que representaram obra distinta, estão presentes para uma breve tertúlia, cada um no seu alguidar. Não houve uma selecção prévia de perguntas a que os intervenientes tiveram acesso, nem vou seguir uma obra pré-estabelecida. A única excepção será eu decidir quem responde em primeiro.
- Antes de mais, uma palavra de saudação para todos. Vou começar por si. Diga-nos de sua justiça.
- Olá a todos. É com um misto de alegria e comoção que aqui me encontro e, se não fosse o seu interesse, não teriamos voz para nos fazermos ouvir. Eu começaria por referir as inúmeras tentativas silenciosas com que têm, de forma permanente, tentado acabar com o nosso departamento.
- E qual é o seu departamento?
- É muito vasto, mas basicamente são furos.
- Mas que género de furos!? Furos para extracção de água, furos de orelha!? Especifique.
- Furos para a imprensa cor de rosa.
- Pode adiantar algum?
- Ainda não inventei nada para amanhã, mas costuma surgir sempre uma ideia até ao fim do dia. Tem é de ser minimamente credível! A nossa credibilidade é que faz o nosso leitor...ou será o contrário!?...
- Certo. Dirijo-me ao meu próximo representante. Porquê só agora a vossa reivindicação?
- Porque só agora é que saí do buraco onde estava! Se não fosse esta última enxurrada de água que veio e que me trouxe ao nível da superfície, a esta hora ainda estaria a comer ratos!
- Quer dizer que está aqui acidentalmente!?
- Acidentalmente não! Cheirou-me a croquetes. Qualquer tertúlia deste gabarito, tem sempre uma mesinha com uns aperitivos. Espero que haja ainda mais alguma coisa. Se não houver, basta um pacote de batatas fritas! o interior do invólucro fica sempre com algum condimento. Eu sei porque apanhei alguns quando estive lá!
- Lá...na guerra do Ultramar!?
- Mas qual guerra!? Lá no buraco do pavimento, homem! Aquele de onde eu saí!
- O meu último representante da Associação Buracos de Orçamentos de Obras Públicas e Privadas, Furos e Porque Não, de Afins Também, está desejoso por relatar a sua experiência. Prossiga, meu bom homem.
- Como está? Bem dispostinho? Bom, eu antes de mais, devo esclarecer que estou num departamento em que suspeito sou, se disser que não gosto de buracos. Aliás, creio e receio que o meu testemunho exposto aqui, só venha contribuir para confundir os demais.
- Qual é o departamento?
- Películas badalhocas.
- Quer dizer concerteza, pornográficas?
- Não, quero mesmo dizer películas badalhocas! É que são de uma baixeza, duma falta de gosto, duma falta de qualidade! Ainda ontem era um cavalo e uma senhora de nacionalidade...
- Pormenores não, obrigado!...